domingo, 31 de agosto de 2014

Antes tarde do que nunca ou A Aventura Parte VIII




Quase dois anos são passados desde que fiz essa viagem ao Egito e, por algum incerto e insabido motivo, o final ficou enrolado no computador, escrito porém não publicado, com o que está aí como uma enorme pedra no meio de meu caminho.

Como pretendo retomar esse blog também por causa de uma viagem, vejo-me na obrigação de finalmente postar o final da viagem ao Egito, nem que seja apenas por uma forma de aliviar a minha dor-na-consciência-por-deixar-algo-inacabado.


Furto-me de maiores detalhes sobre a maldição do faraó. Apenas posso dizer que já a partir de quinta de noite as minhas refeições passaram a ser chá de hortelã com erva cidreira e alguma torrada, quando disponível.

O próximo passeio estava agendado para as 16 horas, conhecer a cidade de Assuan. Não que eu já estivesse em condições normais, mas pelo menos dava para aproveitar alguma coisa. Além disso pouco foi feito a pé, com o que bem ou mal participei do passeio que já havia pago. Aliás que esses passeios em Assuan foram pagos à parte. Como disse alhures, foi a alternativa que encontramos para o passeio que não fizemos a Abu Simbel. Os chineses preferiram ir a Abu Simbel, com o que o refeitório no chafé-da-manhã e no almoço estava bastante razoável, já que o passeio a Abu Simbel sai por volta das 2:30 da madrugada e volta só de tarde.

Mohammed disse que acha a cidade de Assuan mais bonita e mais interessante do que Luxor – que é onde ele mora – mas eu não sei o que dizer a respeito. Da próxima vez que for ao Egito vou dar um jeito de conseguir ir visitar todos esses lugares por conta própria, para poder ter de fato uma impressão do país e do povo, pois com um guia te levando para cima e para baixo limita por demais a percepção da coisa.

Conhecer a cidade significou visitar uma mesquita e uma igreja copta. Pelo menos a gente pode tirar fotos, mas em troca teve de tomar uma baita aula de islamismo. Confesso que não prestei muita atenção nas explicações de Mohammed. No dia em que eu achar que preciso saber como funciona o islã em todos os seus detalhes eu compro uns livros e leio, coisa que penso que nessa vida não vá acontecer mas, nunca se deve dizer dessa água não beberei.

Penso que para mulheres educadas no mundo ocidental o islã é por demais de complicado.

A mesquita que visitamos em Assuan
Fomos em seguida à igreja copta. Finalmente uma igreja dessas onde se podia fotografar. Lá dentro havia uma espécie de aula de catecismo, pelo menos foi assim que entendi a coisa. Obviamente não entendi uma palavra e a cantilena também me pareceu estranha. Mas a igreja é relativamente nova e, pelo visto, bastante freqüentada.

Interior da igreja copta

Saindo de lá Mohammed levou-nos a um típico café egípcio no alto de um morro de onde se tinha uma fantástica vista do rio Nilo e assim pude fotografar mais um lindo por-do-sol.

Por-de-sol no café egípcio na cidade de Assuan

Eu não quis tomar e nem comer nada. Fica em aberto se aquilo de fato era um autêntico café egípcio. De qualquer forma me pareceu mais uma biboca daquelas que você eventualmente encontra nas margens do Amazonas em Belém. Talvez seja algo típico de riozão, quem o sabe.

Típico café egípcio

De lá fomos ao Bazar. De acordo com Mohammed Assuan é o melhor lugar para se comprar especiarias e condimentos. Levou-nos a um estabelecimento, onde disse que compra também os condimentos para sua mulher. Katrin gastou uma fortuna nessa compra, e eu sequer tomei conhecimento da coisa, já que não me interesso por arte culinária e doente do estômago menos ainda.
Loja de especiarias no bazar em Assuan
Depois da compra de especiarias ainda ficamos andando pelo bazar, onde misteriosamente não fomos tão atacadas pelos vendilhões como nos templos egípcios. Katrin comprou ainda alguns souvenirs, que a meu ver foram caros demais. Eu não me interessei por coisa alguma. Criei trauma contra os vendilhões. Em outra banca ela comprou duas camisetas para Luis e em seguida voltamos para o navio.

Achei a 25 de março em Sampa mais interessante do que aquele bazar e gostaria muito de conhecer um shopping center egípcio, lugar ao qual infelizmente nenhum dos guias nos levou.

Voltamos para o navio na hora do jantar, que no meu caso restringiu-se ao chá com torradinha e fui dormir cedo.

No dia seguine, sábado, o navio retornou sua viagem a Luxor, mas somente depois do almoço, já que na parte da manhã os chineses ainda tinham de visitar algumas preciosidades egípcias. No navio existe a possibilidade de um cruzeiro de uma semana, como Katrin e eu compramos ou apenas dois ou quatro dias, como foi o caso dos argentinos e dos chineses. Via de regra os passeios são contratados à parte.

Na parte da manhã a maioria dos passageiros que ficou no navio por já ter visitado tudo o que havia para ser visitado ficou no deck superior, inclusive a minha doente pessoa, que aproveitou para adiantar a escritura dessa aventura. À uma da tarde, bem na hora do almoço as cortinas do refeitório se abriram: estávamos novamente navegando.

Nesse dia fomos visitar o templo de Comombo, que ficou faltando na ida por causa da doença de Luis.

Templo de Comombo
Os antigos egípcios acreditavam que os deuses enviam à terra manifestaçõe físicas de si mesmos em forma de seus animais totêmicos. Assim nos templos de Sobek um crocodilo vivo, reconhecível através de marcas específicas, era visto como contendo uma centelha divina e era tratado e cuidado pelos religiosos durante toda sua vida. Depois de sua morte o espírito do deus iria se mudar para o corpo de um outro crocodilo, enquanto que o crocodilo morto era mumificado e enterrado cerimoniosamente em um cemitério especial. Peregrinos que vinham rezar a Sobek também davam ofertas votivas em forma de pequenos crocodilos mumificados, stelae ou estátuas do deus, que também então seriam enterrados em cemitérios como o de El-Shaib.

Adoração ao Deus Sobek

 
Museu do crocodilo em Comombo

O templo de Comombo é interessante, sobretudo em função do museu do crocodilo. Uma pena que se tenha de fazer tudo dentro do ritmo do guia. Nas paredes há inscrições bastante interessantes que mereceriam uma visita mais aprofundada, mas o tempo foi curto.

Pretendíamos ainda tomar um café egípcio com Mohammed, mas o malvado sumiu e Katrin e eu, depois da visita ao museu do crocodilo, ficamos andando como baratas tontas e nada de encontrar Mohammed. Quando já estávamos desistindo e resolvendo voltar ao navio, ele veio ao nosso encontro praticamente na entrada para o navio, com o que o programa do café ficou para o dia de São Nunca.

Com certeza de noite haveria novamente alguma festa de dança de alguma coisa, mas eu me recolhi: decididamente não estava ainda em condições de grandes vôos.

Depois da visita ao templo, o navio novamente partiu para o pernoite em Edfu, como havia sido na ida. Assim fomos no domingo de madrugada novamente acordados pelo muzaidim chamando os fiéis para as orações.

Domigo, nosso último dia no navio, foi aniversário de Katrin. Assim logo cedo já a cumprimentei e Mohammed veio dizendo que a tripulação havia organizado uma surpresa para a noite.

A passagem pela eclusa foi por parte dos vendilhões menos concorrida do que na ida, mas isso pode ser pelo fato de os chineses serem menos interessados em grandes negócios fluviais do que os argentinos.

Vendilhões oferecendo mercadorias na eclusa
Ao chegarmos em Luxor fomos visitar o templo que ficou faltando. Interessante, mas já tudo com gosto de final de festa.

De minha parte, o que mais gostei no Templo de Luxor foi saber que havia na antigüidade uma avenida de esfinges, de três quilômetros de comprimento, que levava do Templo de Luxor ao Templo de Karnak. Estão tentando recuperar essa alameda. Os respectivos pontos iniciais já foram desencavados.

Alameda de esfinges de três quilômetros que levava do templo de Luxor ao templo de Karnak
De noite, depois do jantar de fato teve uma surpresa para Katrin: um bolo e dança, como se vê no filminho.

Aniversário de Katrin no navio

No dia seguinte, logo depois do café-da-manhã, o transfer me levou de volta ao aeroporto de Luxor, onde sem problemas embarquei então de volta para a cidade do Cairo.

Muito interessante sobrevoar o deserto, onde se vêem coisas, que não se tem a menor idéia do que possa ser:

Sobrevoando o Sahara
Em Cairo tomei um chá de aeroporto, sentada entre o nada e o coisa alguma, sem internet, sem café, sem comida, enfim, sem nada, esperando meu lugar no vôo de volta a Frankfurt.

Nisso vejo uma mulher com três crianças pequenas que também se apresentou ao vôo. Logo em seguida também eu fui chamada e meu assento era bem junto da mulher com as três crianças.

Ela era sudanesa casada com um alemão-sudanês, com o que as três crianças eram também alemãs. O marido havia levado a família toda para as férias de verão no Sudão e, na hora da volta, passou a mão no passaporte de todos eles e voltou sozinho para a Alemanha, abandonando a família sem dinheiro, sem documentos, e isso aparentemente por ter arrumado outra na Alemanha.

Com muito custo a mulher conseguiu um passaporte temporário para as crianças junto ao consulado alemão no Sudão e com o auxílio dos familiares embarcou com as crianças de volta à Alemanha, praticamente com a roupa do corpo, o que já era ruim, pois para as férias havia levado só roupas de verão e já estávamos no meio do outono.

Gostaria muito de saber como terminou essa história. Por sorte ela tinha amigos alemães que a estava esperando no aeroporto.

A sudanesa com seus três filhos. Espero que estejam bem.
Para terminar essas anotações tive de rever as fotos da viagem ao Egito e confesso que me deu vontade de fazer essa viagem novamente.


Mas antes ainda há muitas outras viagens pela frente.

Tchau, Egito. Vou voltar, sei que vou voltar ...

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