Amanhecer em Frankfurt am Main no dia 23.04.2015 |
Eram seis
e meia da manhã da quinta, 23 de abril de 2015, quando tirei a foto acima às
margens do Rio Meno, a caminho do serviço. Ainda teria de trabalhar meio dia,
para então pegar o avião que sairia às 13:40 do Aeroporto de Frankfurt am Main
rumo ao Aeroporto de Nagoya no Japão.
"Mas
por quê cargas d'água você quer ir ao Japão", não cansaram de me
perguntar. Uma resposta definitiva eu não tinha, mas me deu vontade e isso para
mim já é motivo mais do que suficiente.
De fato, um atávico motivo poderia até existir:
Há
cinqüenta anos, lá no remoto ano de 1965, um ano bastante definitivo em minha
vida, meu pai um dia chegou com a novidade: iríamos nos mudar para o Japão.
Como já naquela época eu era fascinada por viagens e culturas diferentes,
enchi-me de alegria: iria me mudar para um outro país.
Por qual
motivo essa transferência não deu certo eu não sei dizer. Nunca me contaram e
eu também não mais me interessei. A frustração foi grande e eu repeti de ano na
escola. Se por conta da mudança que, no final das contas não aconteceu, eu não
sei mais dizer.
Para a
viagem ao Japão eu havia inicialmente escolhido a primeira semana de maio, em
função do feriado, mas vendo melhor, resolvi antecipar por uma semana, pois um
dos objetivos de minha viagem era ver e fotografar a florada das cerejas.
Assim
marquei férias, reservei um hotel e marquei a passagem para o dia 23 de abril,
com a volta marcada para o dia primeiro de maio.
Havia
escolhido ficar a semana inteira em Kyoto. Por qual motivo? Nenhum motivo específico.
Senti-me atraída pela cidade pelo seu patrimônio cultural da Humanidade e
também por a florada da cereja de Kyoto ser famosa.
Últimos preparativos para o vôo LH736 (Franfkurt -> Nagoya) do dia 23.04.2015 |
Foi um
vôo de 12 horas bastante tranqüilo, já que o avião estava praticamente vazio.
Mas, no meio da noite, deu-se um hilário diálogo entre mim e o comissário
japonês:
Comissário: A senhora
tem família no Japão?
Eu: Não, senhor, não tenho.
Comissário: Mas a
senhora vai se encontrar então com conhecidos no Japão?
Eu: Não, senhor, não tenho
conhecidos no Japão.
Comissário: Então a
senhora vai se juntar a algum grupo de turistas?
Eu: Não, senhor, não vou me
juntar a nenhum grupo de turistas no Japão!
Comissário: Mas, o
que então a senhora vai fazer no Japão?
Eu: (Em alto e bom som) Férias!
Comissário: Quer
dizer que a senhora está indo para o Japão sozinha para fazer férias?
Eu: Exatamente.
Comissário: Mas
porque o Japão?
Eu: Porque não conheço e quero
conhecer.
O
Comissário ficou com uma cara de quem nada entendeu, ar de espanto
espantosíssimo e eu achei o diálogo no mínimo surreal. A comissária que estava
ao lado ouvindo a conversa caiu na risada e disse que nunca tinha visto o
colega conversar tanto e que não era de seu feitio fazer assim perguntas para
as pessoas, mas tanto um quanto o outro acharam muito legal que eu fosse fazer
férias no Japão sozinha. Tentaram me dar dicas sobre comida, muito simpático da
parte deles, mas de nada adiantou. A comida é o meu calcanhar de Aquiles, mas
isso já sei de outras viagens.
Ao chegar no Aeroporto de Nagoya a primeira surpresa: por todo o
corredor um risonho Christiano Ronaldo cumprimentando as pessoas do alto de um
cartaz repetido a cada cinqüenta metros e as placas indicativas eram também em
língua portuguesa. Se por conta dos portugueses ou dos Dekassegui brasileiros
eu não sei dizer. De qualquer forma a séde da Toyota – em 2014 o maior
fabricante de automóveis do mundo – fica logo ali ao lado e penso que esse
aeroporto seja então a porta de entrada dos trabalhadores estrangeiros dessa
empresa.
O
controle de passaportes foi sem maiores problemas, mas a mala foi controlada na
alfândega. A impressão que tive é que todas as malas são controladas na
alfândega. Mas também foi rápido e vi-me então no saguão do aeroporto, onde
minha primeira providência foi tirar dinheiro local num ATM.
Novamente a surpresa: o ATM falava português! Assim, tirei meu dinheiro
e o próximo passo seria então encontrar um meio de chegar a Kyoto.
Encontrei um guichê de venda de passagens e disse que queria ir a Kyoto,
ao que o risonho japonês me disse que eu teria de primeiro comprar uma passagem
até Nagoya e lá comprar uma passagem para Kyoto. Não dava para comprar tudo de
uma vez pois eram companhias diferentes que faziam o trajeto e do aeroporto não
saía nenhum trem direto para Kyoto.
Assim, lá me fui para Nagoya, num trem que só falava japonês e onde
também só se encontravam japoneses.
Chegando na monstruosa estação ferroviária de Nagoya, quis dar uma de
entendida e fui comprar uma passagem para o famoso trem-bala Shinkansen
diretamente no automático.
Muito orgulhosa com minha passagem comprada lá me fui para a plataforma
de embarque que se alcança passando por uma cancela como no metrô de Paris:
coloca-se a passagem em uma ranhura e ela sai do outro lado e abre-se a
cancela.
Só que a minha passagem não abriu cancela alguma. Saía do outro lado e
nada. Eu já estava ficando alarmada, quando um simpático japonês, encarregado
de controlar as entradas dos passageiros, me disse que estava falando um papel,
ou seja, para eu poder passar teria de entrar com dois bilhetes.
Voltei correndo para o automático onde havia comprado a passagem,
pensando que talvez tivesse esquecido a segunda parte na máquina, mas por lá
nada havia. Fui então no guichê - onde deveria ter ido logo de cara - e contei
da minha desventura, ao que o simpático japonês, em um inglês bastante
rudimentar, me explicou que eu havia comprado apenas um assento para o trem e
não a passagem! Ou seja, havia perdido o trem do assento, mas isso não se
mostrou problema, já que ele me deu um novo assento e me vendeu a passagem
que faltava.
Com isso eu fui feliz e contente para a plataforma de embarque, já que
com as duas partes a cancela abriu-se feito um Sésamo.
Foto tirada a 300 km/h |
A
paisagem passa tão depressa que mal dá para se fotografar alguma coisa.
Chegando
em Kyoto, resolvi ir pelo meu tradicional caminho, qual seja, procurar usar os
meios de transporte público de uma forma barata.
Ainda em
Frankfurt eu havia me informado em uma Agência de Turismo japonesa sobre o
passe de trem de validade de sete dias, a módicos 300 €. A simpática japonesa
me perguntou qual roteiro que eu pretendia fazer, ao que lhe disse que chegaria
de avião em Nagoya e de lá iria para Kyoto e a mesma coisa de volta.
Perguntou-me se eu pretendia viajar pelo Japão de trem, ao que eu lhe disse que
não, que iria ficar somente em Kyoto. Fez-me uma conta e disse que não valia a
pena gastar 300 € para um passe que eu não iria usar. As passagens de trem que
eu teria de pagar seriam menos da metade do preço. Devo dizer que esse passe de
trem só se pode adquirir fora do Japão. Uma vez lá estando, não dá para comprar
mais. Eu decidi então não comprá-lo, mesmo porque ele não dá direito a se
viajar com o trem-bala e isso eu queria fazer de qualquer forma.
Estação Ferroviária de Kyoto |
Interior Estação Ferroviária de Kyoto |
Assim,
cheguei eu na estação de Kyoto. O prédio é tão majestoso que lá dentro existe
até uma maquete dela feita de lego.
Maquete da estação de Kyoto |
Fui então
em busca de uma possibilidade de andar de transporte público local, com o que
cheguei no Escritório de Turismo da cidade que fica dentro da estação. Lá vi
que havia a possibilidade de se comprar por dois mil yens um cartão
válido por dois dias. Junto vem um mapa com todos os pontos de parada de
ônibus, metrô e vai por aí afora.
Com esse cartão dirigi-me então ao hotel que havia reservado. Duas
estações de subway e duas quadras a pé.
Primeiras impressões |
Primeiras impressões |
Entrada do hotel (onde está entrando o senhor de verde) |
Cheguei
sem maiores problemas ao hotel por volta do meio-dia. A simpática mocinha da
recepção disse-me porém que eu não poderia entrar no quarto antes das três.
Fazia um tremendo calor, com o que troquei de roupa, larguei a mala no saguão e
fui andar.
Primeiro passeio |
Bicicletas por todo lado |
Senti-me uma perfeita analfabeta |
Tudo tão diferente |
Mais bicicletas |
Pelo menos não vou passar fome |
Bicicletas e mais bicicletas |
Impressionante |
Eu já
estava mais do que encantada com tudo o que estava vendo, quando me deparei com
meu primeiro templo em Kyoto.
Chōzuya ou temizuya xintoísta para a purificação |
Sem legenda! |
Templo Shoukou |
Lateral |
Entrada |
Não consegui ler |
Lugar para se encaminhar os pedidos |
Lindo jardim |
Depois de
almoçar um Cesar Salad continuei meu passeio, pois ainda não havia dado a hora
de voltar ao hotel para o check-in.
Vitrine de moda ocidental para noivas japoneas! |
Canal |
Ruela atravessando o canal |
que desemboca em um rio |
À beira do rio |
Voltando ao hotel |
Chegando
de volta ao hotel, a simpática mocinha da recepção deu-me então as instruções e
perguntando se eu queria café-da-manhã, que não era incluso na diária. Disse-me
que se eu reservasse o café-da-manhã com ela pagaria 700 yen, se resolvesse no
dia seguinte direto no restaurante, pagaria 800 yen. Disse-lhe então que iria
reservar para um dia, pois queria experimentar. Se desse certo voltaria para
reservar os demais dias.
Fui-me então para o quarto no sétimo andar, morrendo de cansada, pois já
estava cerca de 24 horas sem dormir, já que não consigo dormir no avião.
O quarto era um espanto: minúsculo mas grande ao mesmo tempo. Penso que
os japoneses sejam os campões mundiais em aproveitamento de espaço.
Uma cama de excelente tamanho |
O show: uma máquina de lavar roupa |
Maravilhas da modernidade: num quarto
minúsculo ainda tem lugar para uma máquina de lavar roupa. Para secar havia no
banheiro uma cordinha enrolável que vai de um lado ao outro no chuveiro.
Tábua de passar calças. |
Um umedecedor que não sei como funciona. Esse só falava japonês e nada entendi. |
Frigobar, onde só havia uma garrafa de água que todos os dias era renovada. Fazia parte da diária. |
O banheiro também pequeno, mas de tamanho mais do que suficiente. |
Várias opções. |
Espaço muito bem utilizado. |
E assim terminou o meu primeiro dia no
Japão. Dormi como uma pedra, já que a cama era por demais de confortável.