sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O policial ou A Aventura - Parte VI



São agora 11 horas do sábado 6 de outubro e estamos ancorados em Assuan, a cidade da famosa represa construída na década de 70 do século passado e para cuja construção foi necessária a remoção do templo de Abu Simbel para algum lugar no deserto que fica a cerca de umas 3 horas de transporte terrestre daqui.

Como programa opcional foi-nos oferecida a oportunidade de ir visitar Abu Simbel a módicos 85 € por pessoa. Para tanto ter-se-ia- de levantar às duas e meia da madrugada, enfrentar uma viagem de 3 horas de ida e mais 3 horas de volta. Nem Katrin nem eu nos interessamos por esse programa. Mas, não coloquemos a carroça adiante dos bois.

Em alguma hora da quarta-feira de madrugada o navio atracou em Edfu, uma aldeia às margens do rio onde há um templo a ser visitado.

No mesmo esquema do dia anterior, pontualmente às seis horas toca o telefone despertando o turista ávido por conhecer as divindades egípcias, que nessas alturas teve ainda umas duas horas para dormir de novo já que por volta das quatro e pouco da manhã foi acordado pelo muzaidim chamando para as orações: o navio atraca bem defronte a um minarete! Depois do café-da-manhã, deixamos o navio pontualmente às sete horas, desta vez rumo a uma charrete que iria nos levar ao Templo de Horus.

Defronte ao ancoradouro havia uma legião de charretes esperando para levar os turistas ao Templo de Horus.
Charretes com turistas rumo ao templo de Horus em Edfu
Entrada do templo de Horus
Mohammed explica que esse templo é relativamente recente, construído na época dos gregos, ou seja cerca de 200 anos A.C. Diz também que até há uns 200 anos o templo era uma espécie de cortiço, já que ninguém mais se interessava pelos antigos egípcios e que a redescoberta dessa cultura para o mundo moderno se deve a Napoleão. A conferir.

O que mais me chamou a atenção nesse templo é que os rostos das criaturas nos desenhos das paredes são todos destruídos, até os bem ao alto. Alguns dos ocupantes do templo devem ter feito isso. Um horror.
Os rostos da pessoas estão todos destruídos
Enquanto Katrin e Luis ainda ficaram andando pelas colunas do templo, sentei-me à entrada ao lado de Mohammed e ficamos observando um gatinho por lá estava. Mohammed disse que o gato era uma estrela internacional e o gato mais fotografado de todo o Egito pois não havia turista que não parava para tirar uma foto, que daí iria rodar o mundo inteiro.
O artista internacional: gatinho no Templo de Horus em Edfu  
Quando Katrin e Luis chegaram voltamos para o navio de charrete andando por ruas cheias de gente, uma gente estranha, tão distante de minha realidade, o que sempre me fascina. O que no Brasil seria chamado de camburão, aqui é transporte urbano: uma camionete com a parte de trás com assentos para passageiros.
Passageiros no camburão
O cotidiano nas ruas de Edfu
De volta ao navio, fui ao deck onde comecei a escrever o texto de ontem e a viagem continuou rumo a Kom Ombo, onde deveríamos então visitar mais um templo.

Nisso aparece Katrin dizendo que não iriam mais visitar templo algum pois Luis havia adoecido com vômito e diarréia, a maldição dos faraós.

Já desde que chegamos ao navio, em todos os lugares há escrito que a água das torneiras serve apenas para higiene pessoal e não é potável. Também em alguns guias de viagem há a observação sobre os cuidados que se deve ter com a água no Egito. De onde veio a doença de Luis não sabemos, mas o menino de noite até febre teve.

Com isso Mohammed disse que a visita ao templo seria adiada para o sábado, quando então novamente passaríamos por Kom Ombo. Assim continuei no navio, sem programa e apenas observando o vai-e-vem das pessoas no ancoradouro.

Observo então uma cena que tanto na Alemanha e penso que também no Brasil que conheço seria impensável. Por cá há policiais vestidos de branco, portando metralhadoras. No ancoradouro um policial passeia com sua metralhadora e seu quepe na mão direita e o celular ao ouvido na mão esquerda.

De repente ele senta-se em cima do quepe e continua falando ao celular. A metralhadora descansa a seu lado.

Nisso surge um conhecido que ele levanta para cumprimentar com beijos (infelizmente essa foto ficou muito ruim). Continua segurando o celular na mão mas a metralhadora fica ali descansando no chão, enquanto os turistas passam felizes e contentes à sua frente.

O conhecido vai embora e ele torna a se sentar sobre o quepe que ficou ali na pedra ao lado da metralhadora e volta a falar ao celular. A metralhadora quietinha lá parada a seu lado onde ele a havia deixado.
Em algum momento ele resolve brincar com a metralhadora enquanto fala ao celular e a traz para sua frente.
Encerra a conversa e procura no celular um novo interlocutor. A conversa ao celular parece ser animada como a anterior. A metralhadora permanece apenas como um brinquedo em suas mãos.
Uma pena que algumas fotos bem significativas dessa seqüência ficaram muito ruins, uma vez que estava escurecendo e a luz já não permitia boas fotos. Deixei o policial lá falando ao celular e brincando com a metralhadora. Entre a primeira e última foto da cena passaram-se dez minutos, uma eternidade se a gente considerar o que tudo alguém com intento terrorista poderia ter feito em um minuto com uma metralhadora dessas num ancoradouro cheio de navios de turistas. Ou será que a metralhadora era de fato somente de brinquedo?

A foto do lindo por-de-sol foi anterior à seqüência com o policial, com o que se pode ter uma idéia da baixa qualidade da luz para as fotos do policial, infelizmente. Escurece cedo e depressa no Rio Nilo.
Por-do-sol em Kom Ombo
Depois de os visitantes do Templo de Kom Ombo terem retornado, o navio prosseguiu sua viagem até Assuan. Não vi quando chegamos.

Depois do jantar havia uma festa no deck do navio, onde os argentinos vestiram as roupas que no dia anterior haviam comprado dos vendilhões na eclusa e se divertiram a valer. Eu preferi me recolher e dormir o sono dos justos.

No dia seguinte Mohammed disse que tinha duas notícias para nós: uma boa e uma ruim. A boa era que os argentinos iriam embora naquele dia. A ruim é que seriam substituídos por chineses. Como já disse em outro lugar, nobody is perfect e assim teríamos de conferir o que seria melhor: 20 argentinos ou 39 chineses. Emergentes eram ambos os grupos.

Luis e Katrin apareceram pontualmente para o café-da-manhã e Luis, apesar de ter tido febre de noite, já estava com uma aparência bem melhor. O programa daquele dia iríamos fazer junto com um outro grupo de alemães do navio e Mohammed não iria nos acompanhar. O nosso guia seria então Nasser, que nos levaria de barco ao Jardim Botânico e à aldeia núbia. Mas isso é uma outra história.

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quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O Vale dos Reis ou A Aventura - Parte V

Parte I
Parte II
Parte III
Parte IV

No jantar da segunda-feira à noite o casal maravilha sumiu-se da minha mesa e em troca apareceu uma moça com um menino. Mostrou-se que esses dois eram de fato os passageiros que integravam o meu grupo: Katrin e Luis, sendo que o menino tem 9 anos de idade, mas parece ter uns 12. O casal sem simpatia foi sentar-se em uma outra mesa e não mais tive alguma coisa a ver com ele, o que me alegrou sobremaneira. Katrin já foi reclamando da mesa que era muito alta para o menino e se eu me importaria se eles procurassem uma outra mesa para se sentarem na próxima refeição, que seria então o café-da-manhã de ontem. Disse-lhe que para mim tudo era festa e assim ficamos acertadas de que na manhã do dia seguinte teríamos uma melhor mesa para o menino.

A noite foi tranqüila e apesar do ar-condicionado deu para dormir muito bem. Mohammed havia dito que seríamos despertados às seis da manhã para o café-da-manhã e o passeio ao Vale dos Reis sairia então às sete horas.

Às seis horas da manhã toca o telefone para despertar o turista adormecido. A nova mesa do café-da-manhã mostrou-se ter sido um péssimo negócio: no meio dos espanhóis. Mais tarde Mohammed nos explicou que não se trata aqui de espanhóis mas sim de sulamericanos. 

Bem que eu achei mesmo que aquelas pessoas tinham um comportamento típico de emergentes: falam alto demais, comunicam-se uns com os outros aos berros, já que os outros estão a quilômetros de distância dos uns, vão ao buffet e carregam tudo o que podem para as mesas, sem querer saber se ainda há outras pessoas presentes com o mesmo direito de comer, param simplesmente no meio do caminho e não se movem nem para a direita, menos ainda para a esquerda e se você tiver o azar de ter caído no meio deles, trate de exercitar tua paciência e resignação e interiormente ficar dizendo “todos são filhos do mesmo Deus e pagaram a passagem do cruzeiro assim como você”. A isso dá-se o nome de democracia, sendo que eu sou da opinião que democracia jamais pode ser sinônimo de falta de educação e bons modos, mas nos dias correntes isso parece ser apenas mais uma de minhas opiniões não compartilhadas pela maioria.

Essas pessoas de fala espanhola perfazem mais da metade da população do navio, seguidas dos alemães que são cerca de um terço e os restantes são de algum outro lugar incerto e não sabido. Mas todos civilizados a ponto não chamarem a atenção como os de fala espanhola.

Pontualmente às sete da manhã o nosso grupo de três pessoas e mais o guia Mohammed saiu do navio rumo a uma perua que iria nos levar então ao Vale dos Reis. Aí já começou minha decepção: nada de fotografias no Vale dos Reis. Tive de deixar as câmeras na perua. Um trenzinho leva então a horda de turistas do estacionamento para a entrada do Vale dos Reis.
Estacionamento dos ônibus e peruas no Vale dos Reis - Aí ficam também as câmeras fotográficas
No caminho é-se literalmente assaltado por vendilhões que são simplesmente tenebrosos. Mas, como eu havia dito outro dia, fiz o favor de esquecer de colocar meu chapeuzinho de andar no sol na mala e assim eu estava urgentemente necessitada de algo para cobrir minhas cãs.

Apesar de no caminho para o Vale dos Reis, que passa por canais e mais canais do Rio Nilo, canais esses que servem para irrigar plantações de milho, cana-de-açúcar, algodão e papiro, terem caído algumas gotas de chuva, o que Mohammed disse significar sorte, pois aqui não chove nunca, eu temia que o sol iria nos castigar e andar no Vale dos Reis sem chapéu seria no mínimo temerário.

Assim, ao passar pela rua dos vendilhões interessei-me por um chapeuzinho pelo qual o vendilhão queria 10 €. Quase mandei-o destinar o chapéu àqueloutra finalidade menos nobre e fui andando e ele atrás de mim e, de pechincha em pechincha, de preço em preço e cerca de 50 metros caminhados, um chapeuzinho com a inscrição “Welcome to Egypt” de um lado e uma estampa de Tutancamon do outro trocou de dono e minha carteira foi aliviada em 20 libras egípcias, o que todos acharam que foi um excelente negócio, sobretudo a minha cabeça.

O contraste entre o Vale dos Reis e as plantações é gritante: o Vale dos Reis é pura areia e rocha amareladas e as plantações verdinhas. O segredo do porquê de as enchentes do Nilo serem abençoadas: é o único lugar onde cresce alguma vegetação e sem enchente nada de vegetação. A natureza tem umas coisas muito engraçadas, né?

Conta-nos Mohammed que no Vale dos Reis já foram descobertas 63 tumbas, mas que ainda faltam tumbas para serem encontradas já que sabidamente há mais faraós, que ele chama de reis, do que tumbas encontradas. O ingresso dá direito a visitar 3 tumbas, sendo que se alguém tiver interesse em visitar a tumba de Tutancamon tem de pagar um ingresso extra de 100 libras egípcias.

Katrin e Luis se interessaram pela coisa e eu não quis gastar tal dinheiro, já que, como bem Mohammed explicou, na tumba não vai se encontrar nada, pois tudo se encontra no Museu Egípcio em Cairo, e eu já havia olhado tudo aquilo e tenho de confessar, nunca vi tanta riqueza junta e isso tudo encontrava-se dentro de um túmulo! Ou seja, o faraó não deixava jóias aos herdeiros, o que significa, a meu ver, mais uma indústria bastante desenvolvida, já que a cada morte, tinham de ser feitos todos os adornos e adereços de novo. E tudo num magnífico trabalho de filigrana. Eu gostaria muito de possuir um ou dois colares dos que vi por lá no Museu...

Na primeira tumba que visitei irritei-me ao extremo: lá dentro havia turistas tirando fotos com celular! Eram sulamericanos da Bolívia, como suas bolsas de viagem os denunciavam. O motivo de não se poder tirar fotografias no Vale dos Reis é que os turistas não se atêm às regras de não fotografar com flash, o que sabidamente danifica as pinturas nas paredes e esses celulares são todos movidos a flash automático. Penso que em breve os celulares também serão proibidos como já o são no Museu Egípcio do Cairo. Eu acho uma pena, mas entendo e acabo até apoiando a coisa.

Por módicas 40 libras egípcias comprei de Mohammed um set de cartões postais do Vale dos Reis, com direito a explicação de cada postal, o que me fez quase dormir. Aliás que quando Mohammed estava nos explicando o Vale dos Reis Katrin cortou sua explicação dizendo que o menino era muito pequeno para tanto palavrório e seria melhor pular aquele pedaço e ir visitar tumbas. Lá se foram ela e Luis para o interior da tumba mais íngrime e profunda que havia e eu preferi algo menos cheio de escadarias, pois se eu tiver de descer algo assim, tenho de depois subir tudo de novo e não estava nem um pouco a fim disso, sobretudo por causa do calor que já era intenso apesar de ainda cedo.

Vi minhas três tumbas e não achei a coisa tão espetacular como contam os livros. Mohammed explicou-nos que o Vale dos Reis é sucedâneo das pirâmides de Gizé, pois aquelas eram muito visíveis e assim vulneráveis aos ladrões de tumbas. Por isso a partir de um faraó qualquer o que de fato é denominado de Dinastia número qualquer coisa, resolveu-se que o faraó seria enterrado na rocha, ou seja, todas essas tumbas eram escavadas na rocha: quanto mais profunda a coisa, melhor. Na entrada do Vale dos Reis há uma maquete mostrando como isso funcionava. Contou-nos Mohammed também que a importância do Faraó Tutancamon não está no que o faraó fez – não fez nada, já que subiu ao trono com 9 anos e morreu aos 18 -, mas sim na descoberta de sua tumba em 1922 por um cidadão chamado Howard Carter: foi a única tumba intacta até então descoberta. Todas as demais já haviam sido anteriormente descobertas e aliviadas em suas riquezas pelos ladrões e isso já há mais de 3 mil anos.

Na volta à perua Katrin quis comprar uma camiseta para Luis. Digo aqui “quis” quando o correto seria dizer “foi obrigada a urgentemente comprar uma camiseta”. Já no café-da-manhã eu havia lhe dito que tanto ela como o menino estavam vestidos com roupas inadequadas para andar no calor. Enquanto eu vestia uma bermuda e camiseta sem mangas, o menino estava também de bermudas mas com uma camiseta de jogador de futebol de mangas compridas e Katrin vestia uma calça comprida preta, uma camisa leve de mangas compridas e por cima um casaquinho preto de mangas compridas. Eu já estava vendo aqueles dois derreterem no calor egípcio que eu já conhecia de Cairo.

Os dois vêm de Hamburgo e foram de trem até Düsseldorf para de lá pegarem um vôo charter até Hugharda. De lá um ônibus, que atravessa o deserto em 3 horas, levou-os ao navio. Deve ter sido pitoresca essa viagem, pois ela me contou que pegaram uma tempestade de areia no deserto e a perua teve de parar para esperar passar a tempestade, já que era só areia voando e não se enxergava mais nada.

No prospecto do cruzeiro sobre o Nilo a agência oferecia como extra essa transferência de Hugharda até o navio em Luxor, mas quando eu olhei no mapa achei a coisa indígena demais e resolvi organizar-me por conta própria, da forma como relatei ontem.

Com a ajuda de Mohammed Katrin conseguiu comprar uma camisa de algodão muito bonita para Luis, com o que o menino estava se sentindo bem melhor. Era por volta das 8:30 da manhã e o sol já estava mais do que inclemente.
Mohammed e Luis com sua nova camisa
Saímos do Vale dos Reis para o outro lado do morro visitar o Templo de Hatschepsut. 
Templo de Hatschepsut. Atrás, do outro lado do morro, fica o Vale dos Reis
Hatschepsut foi a única mulher no antigo Egito a subir ao trono. Governou durante 21 anos de 1.479 a 1.458 a.C., consta do meu guia de viagens, a placa na entrada do templo diz outra coisa: Templo da Rainha Hatschepsut, XVIII Dinastia – 1495 a 1475 a.C. Diz Mohammed que na verdade ela foi apenas Rainha-Regente, pois governou no lugar do falecido faraó, seu marido, cujo filho ainda era muito pequeno para subir ao trono. De qualquer forma foi suficientemente poderosa para mandar construir esse templo.

Maiores detalhes sobre o templo não conheço, e sem internet para perguntar à Wikipédia, fico aqui devendo a explicação. De qualquer forma eu nunca havia ouvido falar dessa mulher e, se de repente a gente teve isso em alguma aula de história, passou-me desapercebido. 
A tumba do construtor do templo de Hatschepsut - que dizem ter sido o amante da rainha - cuja entrada fica ao lado do tempo. Atrás do morro fica o Vale dos Reis
Katrin fez uma observação bastante pertinente: os planos de construções de Albert Speer no terceiro Reich em Berlin, que a mando de Hitler deveria construir uma nova Germânia, lembram por demais esse templo. Pelo visto os antigos egípcios foram mais copiados do que sonha nossa vã filosofia.

Eram 9:45 e para mim o sol já estava tão insuportável que desisti de subir ao terceiro piso. Katrin e Luis foram lá vê-lo e eu me limitei a tirar uma foto da distância e desci novamente com Mohammed para ir ao quiosque tomar água gelada.
Terceiro terraço: só foto
Saímos de lá na perua com ar condicionado que deveria nos levar para a margem do rio que iríamos atravessar de bote para irmos ao Templo de Karnak, mas antes uma rápida parada para uma sessão de fotos dos colossos de Mennon. Não tenho a menor idéia para que serviam esses colossos, mas tirei as obrigatórias fotos. Talvez em alguma hora eu resolva pesquisar tudo com cuidado para tentar entender um pouco melhor a cultura do antigo Egito. Apesar das aulas fantásticas de História que tive no remoto passado, penso que não cheguei nem na idéia inicial do que foi essa cultura há mais de cinco mil anos.
Colossos de Memnon
Pouco adiante tivemos de parar para dar passagem a um rebanho de ovelhas.
Ovelhas pedindo passagem. Atente que a mulher ao fundo carrega um filhotinho de ovelha no colo
A travessia do rio foi refrescante para o calor infernal que estava fazendo.
O bote com o qual atravessamos o rio Nilo para visitar o Templo de Karnak
Em chegando à outra margem dirigimo-nos ao Templo de Karnak. Arrastamo-nos seria o termo mais correto pois o sol estava além da conta e sequer uma leve brisa para aliviar um pouco. Há algum tempo eu comprei um termômetro digital que mostra a temperatura interna e externa e para a temperatura externa eu tenho de colocar o sensor do lado de fora. Lá bate o sol de tarde e nos poucos dias de calor que tivemos em agora em agosto, a temperatura externa chegou a indicar 54°C. Com isso eu acredito que a temperatura no sol inclemente deveria estar por volta de uns 60°C senão mais.

Nisso já eram umas 11 horas e o sol maltratando de tal forma que até a respiração ficava prejudicada. Não prestei muita atenção às explicações de Mohammed, pois além do calor infernal meu cérebro não conseguia registrar mais nada.

Tirei algumas fotos e sentei-me à sombra de uma coluna e fiquei apreciando turistas. As particularidades do Templo de Karnak eu posso pesquisar em outro lugar de uma forma mais confortável e menos quente.
Casal de turistas japoneses no Templo de Karnak: só os japoneses tinham uma sombrinha contra o calor
Por volta do meio-dia voltamos para o navio, totalmente acabados pois o programa havia sido por demais de intenso para um calor inclemente. Katrin estava vermelha como um peru e eu não o estava menos.

Às 13 horas foi então o almoço onde novamente trocamos de mesa, para fugirmos dos sulamericanos que depois fiquei sabendo tratarem-se de nossos vizinhos argentinos. As you can see, nobody is perfect!

Durante o almoço foram abertas as cortinas do navio: finalmente estávamos navegando.

Depois do almoço fui dormir: a manhã tinha sido por demais de cansativa, não pelas atividades em si, mas pelo calor. Incrível como o calor acaba com a gente.

Um sentimento único é ver passar a paisagem por um lado tão calma e bucólica, por outro lado tão diferente de tudo que se conhece. Às margens do rio é tudo verde e logo atrás o deserto.
O deserto logo atrás das margens do rio
Mohammed havia nos dito que teríamos de passar por uma eclusa. Já ao nos aproximarmos dela, onde tivemos de esperar por volta de uma hora até finalmente chegar a vez de nosso navio passar, comecei a ver uma porção de barquinhos emparelhados com o navio e homens gritando alguma coisa que não entendi muito bem do que se tratava. Subi ao deck e a cena era surreal: vendilhões nos barquinhos – que a essa altura já haviam se multiplicado -  ofereciam vestidos egípcios aos passageiros. Embrulhavam tudo em sacos plásticos que jogavam para cima para a distinta freguesia escolher o que mais lhes agradava e enquanto isso ficavam negociando o preço da mercadoria. Penso que esse vendilhões havia feito também um estágio na Torre de Babel, pois negociavam em espanhol com os argentinos que lhes compraram sei lá eu quantos daqueles vestidos. O dinheiro punham então dentro do saco plástico junto com a mercadoria que não quiseram comprar e jogavam de volta para dentro do barquinho.

Até dentro da eclusa ainda havia um barquinho com vendilhões defronte ao navio em intensos negócios aos gritos e berros com os argentinos.
Os vendilhões emparelhados ao navio
Um luxo nesse navio é que o serviço de limpeza vem duas vezes por dia: de manhã e durante o jantar. E a cada vez arumam tua cama de uma forma bastante criativa. Depois de passarmos a eclusa já era tarde e eu resolvi me recolher. Ao chegar à cabine deparei-me com a seguinte cena:
Numa cama assim arrumada os bons sonhos são uma certeza

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Luxor ou a Aventura - Parte IV

Parte I
Parte II
Parte III


O vôo do Cairo a Luxor foi excelente, apesar do avião lotado. Meu lugar era na janela, mas preferi o corredor, opção com a qual o casal que já estava lá sentado concordou na hora.

Antes de entrar nos próximos detalhes penso que se faça aqui necessário prestar alguns esclarecimentos sobre essa minha viagem. De fato a viagem propriamente dita é um cruzeiro sobre o rio Nilo de Luxor até Assuan. Vi uma oferta imperdível dessa viagem lá no longínquo fevereiro e resolvi comprá-la: uma semana num navio sobre o rio Nilo com refeições e passeios. Paguei a entrada e marquei as férias para essa primeira semana de outubro, coisa bastante prática, já que na Alemanha 3 de outubro é o feriado da reunificação alemã e feriados e finais-de-semana não contam como dias de férias. Dessa forma de segunda a segunda eu só precisei de cinco dias de férias, o que também acabou sendo um excelente negócio.

Não é meu costume marcar uma viagem com tanta antecedência, mesmo porque nunca se sabe o que tudo ainda vai acontecer e de fevereiro a outubro muita água ainda tem de passar por debaixo de muitas pontes até um dia desembocar no rio Nilo.

Marcada estava a viagem, a entrada já paga, mas como chegar de Frankfurt a Luxor ida e volta? Esse pedaço não estava incluso no pacote. Vôo direto não encontrei, com o que restava o vôo via Cairo e aí pensei que seria um desperdício sem fim conhecer de Cairo apenas o aeroporto. Foi assim que acabei chegando em Cairo já na sexta para então na segunda, que é hoje, vir para o cruzeiro sobre o Nilo, que é o verdadeiro objetivo dessa viagem.

Já no avião eu fiquei maquinando com meus botões como eu iria fazer para chegar até o navio, mas pensei que na pior das hipóteses eu acabaria pegando um taxi. Ao desembarcar no aeroporto internacional de Luxor, que vem a ser um nada de aeroporto de tão pequeno, havia uma porção de agentes com placas com nomes de pessoas. Fiquei de olho e em uma delas vi o nome da agência que haviam me dito ser a responsável pela realização da viagem. Fui lá conversar com o homem, perguntando-lhe se também havia lugar para mim no transporte e qual não é minha surpresa ao ver que meu nome estava em sua lista e ele já tinha até o número da minha cabine!

“Mais sorte do que juízo” diz o dito alemão. O camarada passou a mão na minha mala e me levou até uma perua e lá me fui com um motorista rumo ao navio. Os passageiros cujos nomes estavam escritos na placa do cidadão ainda não haviam chegado com o que estavam somente eu e o motorista naquela viatura andando por umas quebradas ao longo de um canal – ou até um rio, sei lá – tão sujo que a água parecia parada. Os reflexos daquelas construções na laje ao lado de palmeiras de damascos dariam fantásticas fotos. Novamente uma paisagem mais do que irreal e tive de me lembrar da brasileira ontem na Citadela, quando disse que o problema dos egípcios não era de pobreza e sim de sujeira. Eu não sei o que dizer a respeito. É um mundo por demais de diferene e distante do meu que não arrisco um palpite, já começando pelo fato de eu não entender sequer a respiração, que diria alguma frase dessa língua.

Quem sabe um dia eu volto para fazer uma caminhada ao longo de um canal desses só para poder tirar as fotos que estão esperando para serem tiradas. É tudo tão diferente de qualquer coisa que eu conheço com uns contrastes como por exemplo no prédio na laje o andar do meio ter um acabamento perfeito ou a outra casa com uma baita de uma pintura de uma cena ribeirinha na fachada.

Construção na laje na beira do rio Nilo em Luxor 
De repente o motorista sai da pista, pista essa, diga-se de passagem, totalmente vazia e sem trânsito. Acho que todos os carros egípcios foram parar no trânsito de Cairo. Emboca em uma rua de terra – areia seria o nome mais adequado – e vai serpenteando como uma cobra cascavel entre o nada e o coisa alguma. Lembrei-me do mocinho que foi me buscar no hotel hoje cedo pontualmente às cinco da madrugada, andando naquelas avenidas de Cairo, totalmente vazias e escuras e achei que se naquela ocasião eu não havia sido raptada, não seria agora que isso iria acontecer, mas não ousei perguntar ao motorista onde iríamos parar.

De repente ele pára defronte a uma cancela e vem um outro Zé (Yussef, penso eu, seria o correto) abrir e lá entramos numa floresta de palmeiras. Depois de uns solavancos em uma clareira há uma porção de carros e ônibus parados. O motorista pára e sai, coisa que eu também faço. Esse motorista era de poucas palavras, ou talvez pouco inglês, mas tinha um celular no qual falou algumas vezes em árabe. Quando me encontrar com o Pedro vou trocar umas idéias com ele: parece que as parabólicas deram lugar aos celulares. Eu acho que isso aqui já é quase que doença, apesar de achar que essa doença é meio universal. Será que por aqui não é proibido falar ao celular quando se está dirigindo?

De repente de trás dos ônibus sai um outro sujeito que pega minha mala e eu tenho de segui-lo. O motorista sumiu. Deve ter voltado para o aeroporto. Atravessamos uma ponte meio cambaleante e chegamos em um navio do qual passamos para um outro navio, do qual passamos para um outro navio, até chegarmos a uma recepção, onde o cidadão já me enfiou uma ficha para preencher e pediu meu passaporte. Mandou-me então ao recinto ao lado, que vinha a ser o bar, para que eu recebesse o meu drink de boas-vindas. Esse drink fazia parte do pacote: um minúsculo copo de um suco ruim que parecia de maracujá ou multivitamina. Não gosto nem de um e nem de outro.

Mas, como não havia tomado café-da-manhã, a breakfast bag que o sujeito do hotel na noite anterior havia solenemente me prometido para as cinco da manhã não foi entregue, e no avião, além de um copo de suco que se dizia de laranja mas tinha gosto de qualquer outra coisa, nada mais havia, eu estava de fato com fome e queria um café com um pãozinho. Eu fiquei com muita raiva no avião quando vi alguns passageiros com o pacote de café-da-manhã do Four Seasons. Apesar que tenho de dizer que até agora foi a primeira vez que vi impontualidade aqui no Egito.

Perguntei ao recepcionista se não havia assim um café com pãozinho em algum lugar da cozinha e como num passe de mágica me aparece um sujeito com uma bandeja com dois pãezinhos e uma xícara de café-com-leite. Tá certo que faltou a manteiga, mas a cavalo dado sabidamente não se olham os dentes, e no final matou minha fome e foi de graça já que nada quiseram cobrar.

Nisso o recepcionista me entrega um cartão com o número do quarto, me dizendo que minha mala já estava defronte a porta esperando e que o passaporte ele iria entregar só no dia seguinte pois tinha de resolver as formalidades com todos passaportes ao mesmo tempo e ainda havia muita gente para chegar.

Aliás que eu tenho de dizer que depois da sexta-feira no aeroporto, onde recebi o visto, foi a primeira vez que tive de apresentar o passaporte. Misteriosamente no check-in do aeroporto ninguém quis vê-lo e assim ele ficou durante toda a viagem bem onde ele estava o tempo inteiro: dentro da bolsa.

A cabine do navio é muito boa, no último andar, com um pequeno balcão que vai permitir que se veja bem o rio quando estivermos navegando. Apesar que o deck superior também é bastante interessante,com direito a piscina e bastante sol. Aliás que o calor é de matar, mas isso eu já falei de monte. O ruim da cabine é que não consigo desligar o ar condicionado. Mas penso que seja melhor com ar-condicionado e cobertor do que não conseguir dormir por causa do calor.
A cabine do navio com o pequeno balcão
Depois de me instalar e trocar de roupa resolvi ir andar lá fora e vi a imensidão de navios atracados sempre um ao lado do outro. Uma paisagem interessante, e uma gente que parecia saída de algum filme de mil-e-uma-noites: homens de vestidos compridos de todas as cores, carregando pacotes para os navios.

Infelizmente durante o passeio apareceram alguns do “Where do you come from?” e eu tive de mudar meus planos e rumo, mesmo porque já não estava agüentando o sol inclemente. As recomendações de Joe e Ahmed ainda estava presentes em meus ouvidos “Não converse com ninguém e não aceite ajuda de ninguém pois eles vão querer dinheiro de você.”
Plantação de papiro no atracadouro dos navios 
Aliás que essa parte do dinheiro é o pedaço mais doloroso dessa viagem: eu realmente não sei mais o que é certo, o que é errado, qual o valor ou desvalor desse dinheiro aqui. O cidadão do aeroporto veio me dizendo que o transporte custava 15 € e que por volta das 11 horas ele apareceria no navio para cobrar. De fato um transporte desses para nossos parâmetros alemães é bastante em conta. Aqui eu não sei dizer. Na conversão deu 115 libras egípcias, o que me pareceu bastante barato, mas se comparado com as 270 libras que paguei pelo transporte, viagem sobre o Nilo, com direito a show e jantar no sábado à noite, eu tenho de achar caro.



Quando eu já estava na fila do check-in do avião em Cairo o mocinho que havia me levado ao aeroporto apareceu e com cara de xuxu me diz que eu havia esquecido de pagá-lo! Quase engasguei e lhe disse que ele que acertasse com Joe, já que eu havia acertado tudo com ele. Se ele quisesse eu poderia lhe dar 10 libras de gorjeta. Não quis e foi-se embora.

Com o sujeito do transporte do aeroporto eu já acertei a viagem de volta, com o que também esse pedaço já está garantido. Mas ele me disse que no navio eu teria um guia reponsável pelas pessoas que compraram a viagem da mesma agência que eu. Ele iria se apresentar e vir falar comigo e eu não deveria aceitar ajuda e nem falar com ninguém outro. Essa frase já conhecemos, né?!

Resolvi subir no deck e tirar algumas fotos quando sou interpelada em alemão por um sujeito sentado a uma das mesas, que estavam todas vazias. Apresentou-se como sendo Mohammed, meu guia de viagem e que ele estava ali para atender a todos os meus desejos e pedidos e me dar todos os esclarecimentos necessários e ... que eu não falasse com ninguém e não aceitasse ajuda de ninguém que ele era responsável por tudo.

Como uma perfeita ladainha decorada ele começou a me recitar todo o programa que iríamos fazer e qual seria o decorrer da viagem. Eu havia comprado um pacote suplementar com direito a uma visita mais detalhada a Luxor, e em função desse passeio o programa havia solicitado que se chegasse cedo o suficiente para o check-in. No final das contas o tal programa diz Mohammed vai ser feito no próximo domingo, quando então estivermos de volta e com essas e mais aqueloutras eu não teria precisado levantar tão cedo para chegar em Luxor com um avião madrugador.

Deixo de entrar nos detalhes que Mohammed, o profeta, contou sobre o que tudo iria acontecer no passeio, pois eu vou contar à medida em que as coisas forem acontecendo. No programa do pacote havia escrito que era tudo inclusive menos a gorjeta e as bebidas. Não havia entendido muito bem a história das gorjetas, que sempre achei que ou se dá ou não se dá, ao que Mohammed didaticamente me diz que eu tenho de pagar-lhe 25 € de gorjeta para ser dividida entre todo o pessoal do navio, desde o maquinista até o recepcionista. Pagamento adiantado, por favor. Dinheiro egípcio é coisa complicada ...


Mohammed, o guia no deck do navio
A minha surpresa, porém, foi novamente o alemão impecável de Mohammed. A resposta foi a mesma dos anteriores: nunca saiu do Egito e aprendeu esse alemão na Universidade do Cairo. Perguntei se os professores eram alemães nativos – o que eventualmente poderia explicar inclusive a excelente pronúncia – mas ele me disse que não, seus professores eram todos eles egípcios e que com a profissão ele também foi aperfeiçoando a língua. Mas quando ele me perguntou onde eu trabalhava e eu lhe disse que minha empresa era uma 100% afiliada de uma outra empresa – em alemão o termo é exatamente esse “empresa filha de outra empresa” – ele entendeu que era minha filha que trabalhava na empresa. Como esse fato também é correto, deixei a conversa desse tamanho. Não estava a fim de dar aulas de alemão ao profeta, apesar de ele ser bastante simpático.



Contou-me Mohammed que com a revolução no começo do ano passado o turismo despencou e os turistas desapareceram, fazendo com que a vida deles ficasse muito mais difícil do que já era antes. Disse que nesse trecho do rio existem cerca de 300 navios que fazem esse cruzeiro e muitos deles tiveram de encerrar as atividades por falta de clientela. De fato aqui no nosso navio não há tantos passageiros, o que de minha parte eu nem acho tão ruim assim.

Interessante que Ahmed ontem também não era muito satisfeito com a tal revolução, por achar que os Irmãos Muçulmanos não estão resolvendo problema algum, muito ao contrário. Ahmed acha que logo vem mais uma revolução. Joe, por sua vez, era meio dividido com a revolução: por uma lado ela acabou com seu pequeno negócio, pois ele tinha um hostel bem perto do Tahir Square, mas por outro ele achava que o governo Mubarak tinha de terminar. Gosto de ouvir a opinião do povo, apesar de ter de confessar que o assunto não me interessa diretamente e assim voltemos ao navio.

Os passageiros não deixam de ser também um povo meio folclórico, com muitos espanhóis, alguns alemães e ingleses. Há também uma indiana que veste um sari com bastante carne aparecendo, o que deve ser uma boa coisa nesse calor.

Tentei ver se não havia algum jeito de eu ir até a cidade de Luxor, já que aqui não havia o que fazer, ao que Mohammed disse que Luxor era longe e não tinha como ir lá. Que eu aproveitasse o dia para descansar.

À uma da tarde foi o almoço, que não foi lá essas coisas, mas deu para encarar. Praticamente tudo comida árabe com algum tempero que não faz muito meu gênero, mas a gente vai levando. De acordo com Mohammed, os lugares na mesa são demarcados e fixos do começo até o final da viagem e que pela mesma agência onde reservei a passagem viriam mais duas outras pessoas, com o que seríamos três em uma mesa redonda. Sentei-me no meu lugar e os dois lugares ao lado ficaram vagos pois os passageiros ainda não haviam chegado. Mohammed disse mesmo que chegariam mais tarde e por isso o nosso passeio da tarde foi transferido para o próximo domingo.

De repente entram dois homens no salão, um tão grande que quase batia a cabeça no teto e o outro menorzinho. Os garçons todos vieram dar-lhes a mão e boas-vindas cheios de “Nice to see you” e isso tudo debaixo de minhas barbas. Os dois sequer tomaram conhecimento de minha pessoa e tomaram assento nos dois lugares vagos a meu lado. Um casal homossexual de meia-idade, com direito até a aliança de brilhantes! Mais folclórico impossível. Devo dizer que nada, absolutamente nada tenho contra homossexuais e desde sempre sou da opinião que cada um sabe de si e eu sei de mim.

Assim como quero que os outros me deixem em paz, também eu deixo todos em paz. Mas o problema ali era por demais de visível e acintoso: pelo menos cumprimentar a pessoa com quem se vai dividir a mesa a cada três refeições durante uma semana seria altamente recomendável, apesar de essa pessoa ser uma mulher sozinha! Pelo menos minha mãe me ensinou assim e penso que a mãe deles também tenha feito o mesmo.

Ainda fiquei um tempo ali sentada observando as pessoas se servindo no buffet e no final acabei me levantando com um sonoro “Mahlzeit” que é o cumprimento alemão para o início ou o final de refeições, ou quando se cruza com alguém na hora do almoço. Pelo menos os mocinhos responderam, o que mostra que nem tudo está perdido na educação do nem tão simpático casal.

Resolvi então dormir e escrever esse texto, já dizendo que não sei quando vou fazê-lo de novo.

Mohammed ligou agora há pouco dizendo que amanhã temos de sair pontualmente às sete da matina para visitar Luxor. Penso que o casal maravilha também vai junto. Vai ser muito divertido, já estou vendo. Caso eu não dê notícias é por causa do preço da internet: 10 US$ por 30 minutos é um assalto à mão armada. E se ainda por cima a rede for lenta vai ser um descalabro sem fim e eu não vou conseguir colocar as fotos que quero colocar.

São vários navios um ao lado do outro. Atravessa-se de um para o outro até se chegar ao navio desejado