domingo, 30 de setembro de 2012

Domingo, pé de cachimbo ou A aventura Parte III

Parte I
Parte II

Hoje vi mais do que claramente que eu de fato detesto o inverno mais pela ausência de sol - os dias são por demais de curtos - do que pelo frio. Sou um ser movido a sol o que provavelmente tem a ver com minhas iniciais, idênticas ao  nome do Deus-Sol dos egípcios. 

Mas hoje o sol caprichou além da conta e, apesar do filtro solar, estou mais parecendo um peru do que gente, o que me lembra um episódio pelo qual passei há muitos anos em Belém do Pará. Entrei numa loja qualquer para comprar alguma coisa e no caixa a mocinha me olha com ar de compadecida e me pergunta: "A senhora não é daqui, não, né?" Olhei com cara de espanto e lhe respondi que de fato eu não era de lá e sim do Estado de São Paulo, mas que gostaria muito de saber como ela havia concluído que eu não era de lá. Candidamente a mocinha me responde: "Aqui não tem gente vermelha como a senhora!" Mas aqui no Cairo é diferente: cada pessoa te olha e pergunta "Where do you come from?" mas isso penso que se dê antes pela roupa do que pela vermelhidão, ou talvez pela falta de roupa: as mulheres por aqui todas andam de lenço na cabeça, um mais bacana do que o outro. Quem sabe também adiro à moda em algum momento.

Mas, antes de contar o que tudo aconteceu hoje, ainda estou devendo os acontecimentos de ontem à noite.  

Joe, o motorista, havia dito que viria me apanhar às 19:15, mas já às 19:00 estava aí. Como eu também já estava pronta, lá fomos nós rumo ao jantar sobre o rio Nilo com direito a um show de dança do ventre.

Apesar de já passar das sete da noite, e sábado ser ainda dia livre dos egípcios, o trânsito continuava caótico. Mas em cerca de 20 minutos chegamos no navio.
Entrada do navio
Ai ficamos esperando um bocadinho até que pudemos nos dirigir à nossa mesa. Joe me explica que primeiro viria o show e depois o jantar. Tudo já estava pago menos as bebidas que teriam de ser à parte, o que é muito normal.

Entre um telefonema e outro - acho que vou querer aprender árabe só para conseguir entender porque as pessoas tanto telefonam - Joe me pede que se eu estiver satisfeita com seu trabalho eu escreva um email para o seu chefe assim tipo uma carta de recomendação. Segue-se um rasgar de seda, dizendo que simpática, agradável e descomplicada que fui e que ele teve imenso prazer em me servir de motorista durante esses dias.

Tudo isso para me dizer que hoje ele não poderia vir me buscar, mas que já havia arrumado um amigo para assumir essa árdua tarefa. Perguntei-lhe então se ele também conduzia árabes, ao que ele disse que sim, mas que não gostava muito pois eles eram extremamente impontuais e ele tinha de muitas vezes ficar esperando mais de duas horas até que as pessoas finalmente se decidissem a ir para onde haviam contratado seus serviços. Aproveitei para lhe dizer que eu estava agradavelmente surpresa de sua pontualidade ao que ele mais uma vez agradeceu e pediu para eu colocar isso na tal carta ao chefe.

De repente entram uns homens no palco e logo começou o show. Todas as vezes que ouço essa música com dança do ventre tenho de me lembrar de escolas de samba na avenida. Eu acho que a nossa música tem pelo menos parte de suas raízes nessa música árabe.
Luna, a dançarina do ventre
Há alguns anos atrás minha cunhada e meu irmão me levaram a um restaurante em Sampa onde também havia um show de dança do ventre e achei que as meninas de Sampa eram melhores do que Luna.

Mas o ponto alto do show foi uma dança que eu não conhecia, Tanoura, e é dançada por um homem, um dervixe.
Dançando tanoura
É uma dança fascinante e eletrizante. Encontrei um vídeo bem característico no youtube, que vale muito a pena ser visto:

Terminado o show veio a comida num buffet de self-service. A comida estava boa, mas para o meu gosto a salada estava melhor. De qualquer forma eu achei que valeu muito a pena e, comparativamente, foi o passeio mais barato de toda minha estadia em Cairo: por menos de 35 €, com direito a ser buscada e trazida de volta ao hotel.

Despedi-me de Joe, pedindo que por favor não se esquecesse de na segunda-feira arrumar alguém para estar aqui pontualmente às cinco da matina para me levar ao aeroporto. Prometeu que se não fosse ele seria outra pessoa e que eu não deveria me preocupar.

Hoje cedo, depois do café-da-manhã, pontualmente às nove horas sou abordada por um cidadão que se diz chamar Ahmed - pelo menos um nome árabe que eu conheço e sei pronunciar direitinho - e que seria então meu motorista para o dia de hoje.

Apesar de também falar ao celular, não era tão ocupado telefonicamente quanto Joe e assim pudemos conversar um bocadinho. O carro dele era um tanto quanto inseguro: o vidro da frente era todo rachado e em um ponto havia um buraco que parecia buraco de bala. Ele me garantiu que não era: coisa de moleques atirando pedras.

Levou-me então incialmente ao bairro copto, onde moram os cristãos ortodoxos e onde se encontram inúmeras dessas igrejas coptas.

Pouco antes de lá chegar mostrou-me uma mesquita, dizendo ser aquela a mesquita mais antiga de toda África. Despediu-se de mim no bairro copto, dizendo que dentro de uns quarenta a quarenta e cinco minutos me aguardava na tal mesquita.

Fiquei com cara de espanto, mas, seja lá o que Deus quiser, aventurei-me sozinha por aquele bairro onde todo mundo me interpelou com o "Where do you come from?" Ahmed havia me recomendado não conversar com ninguém, não aceitar ajuda de ninguém, enfim, todas aquelas recomendações que Joe também vivia me dando.

Nessas alturas eu estava muito mais interessada no ambiente do que nos coptos propriamente ditos e fiquei procurando o festival de antenas parabólicas que Pedro havia mencionado ontem. De fato ontem tanto na ida como na volta das pirâmides o que me chamou por demais a atenção nem foram as antenas parabólicas, mas muito mais os prédios na laje como nossos emergentes brasileiros gostam de construir em últimos tempos. De fato que em cada moradia na laje há uma parabólica, mas chamou-me menos a atenção, talvez por na Alemanha também havê-las em profusão. 

Mas no bairro copto vai-se andando pela rua e de repente vê-se uma escada que desce aparentemente para lugar algum e em cima uma placa:
Na calçada desce uma escada para um bairro
Continuei andando na rua, mas os homens do "Where do you come from?" começaram a ficar histéricos gritando: é aqui que você de ir e apontavam para a escada!

Resolvi fazer-lhes o favor e lá me fui para as catacumbas, que de fato não são catacumbas mas apenas ruelas super apertadas que me lembraram um pouco a Via Dolorosa em Jerusalém.
São Jorge e o dragão no bairro copto
De igreja em igreja, onde não se podia fotografar, cheguei em um cemitério assustador. No meio de umas ruínas que diziam eram romanas, lixo para tudo quanto é lado, areia que parecia areia de praia e eu!

Ruína romana no cemitério copto
Devo confessar que aquele cemitério me deu um tanto de medo. Estava vendo na melhor das hipóteses aparecerem os quarenta ladrões de Ali-Babá, mas poderia também ser o Drácula, já que o dia estava eneblinado de tanta poluição. Aliás que Ahmed logo cedo me disse que foi excelente eu ter ido no dia anterior às Pirâmides pois hoje eu não iria conseguir ver nada por causa da poluição.

De qualquer forma saí de lá correndo e voltei para as vielas, onde então me deparei com uma sinagoga, onde infelizmente também não se podia fotografar.

Pelo menos na sinagoga vendia-se um livrinho com a história e algumas fotos do interior, que comprei por 25 liras egípcias. O cidadão que me vendeu o livrinho me acompanhou e num inglês mais do que capenga me arrastou para os fundos da sinagoga, dizendo que queria me mostrar uma coisa.

Atrás de num monte de bananeiras ele apontou para uma coisa e ficou falando, falando e eu não entendendo nada, até que finalmente fez-se uma luz no meu cérebro na área relativa à compreensão telepática de diálogos em línguas ininteligíveis. O que o cidadão estava me contando e mostrando era que ali, bem naquele lugar, há cinco mil anos passava o rio Nilo e bem naquele ponto Moisés foi salvo das águas pela filha do faraó e é por isso que ali existe aquela sinagoga que desde 1999 não mais é usada para serviços religiosos. Desculpou-se por não poder me explicar do porquê pois ele falava muito pouco inglês e isso era muito complicado para explicar.
Aqui há 5.000 anos Moisés foi salvo das águas do rio Nilo pela filha do faraó
Mas para pedir gorjeta o inglês do cidadão foi suficiente, exatamente como Ahmed e Joe disseram: não aceite ajuda e não converse com ninguém pois eles vão pedir grana. Dei-lhe dez liras egípcias, o que ainda achei barato para tão preciosa informação. Já pensou eu ir embora de Cairo sem ter visto e fotografado o lugar onde Moisés foi salvo do rio Nilo? Seria um erro imperdoável!

Mas, acabei fazendo o erro imperdoável de outra forma: os dois lugares anunciados pela placa na escadaria eu não fui visitar apesar de um dos "Where do you come from?" ter começado a ficar histérico quando saí da sinagoga e fui para o lado errado no entender dele.

Tenho de lhe dar razão, deixei de ver as duas coisas mais importantes no tal bairro copto, mas acontece que Ahmed havia combinado comigo na mesquita às 10:30 e nisso já eram 10:45 e eu ainda tinha de encontrar o caminho de volta e ir a pé sozinha pelas ruas de Cairo.

Em finaqlmente chegando na primeira mesquita construída na África, de fato Ahmed estava esperando me dizendo que eu deveria então ir lá dentro visitar a mesquita. Para poder entrar eu precisava de algo tipo um pano de cabeça, o que eu obviamente não havia trazido junto. Mas eu tinha na mala uma canga de saída de praia, que acabou fazendo as vezes de pano na cabeça. Pelo menos eu achei que isso era suficiente.

Antes de entrar na mesquita tem-se de tirar os sapatos, o que já é um tanto desagradável, mas como eu nunca tinha entrado numa mesquita antes - naquelas de Jerusalém não permitiram pessoas que não eram muçulmanas entrarem - acabei fazendo todos os sacrifícios, o maior deles não sendo ter de tirar os sapatos, mas sim ter de colocar uma espécie de sobretudo verde papagaio de mangas compridas, com direito a touca e tudo o mais. E isso num calor infernal de mais de 35°C! Ainda bem que ninguém quis me fotografar daquela jeito que mais parecia fantasia de carnaval do que roupa de ver Alá na mesquita. 

O centro da mesquita com uma visitante trajando a roupa verde papagaio. Pelo menos a minha canga permitiu que eu não tivesse de colocar o capuz dessa vestimenta!

Mais aos fundos da mesquita havia uns homens deitados que penso estarem dormindo e não rezando, mas de repente isso é uma forma especial de reza, quem vai saber ...

Fui-me embora depois de muitas fotos, não achando nada demais na tal mesquita, mas contente que pelo menos Alá permitiu fotografias, coisa que nas duas outras correntes religiosas foi-me proibido.

Ahmed levou-me então a um lugar chamado Citadela. Transcrevo aqui o que diz a Wikipédia,pois eu também não sabia disso:


A Cidadela do Cairo é um dos pontos turísticos mais populares da cidade do Cairo, no Egito. Foi fundada em 1176 pelo famoso líder muçulmano Saladino, tendo sido a sede do governo egípcio por quase 700 anos.Está dividida em três partes, sendo que a principal área turística da Cidadela situa-se na parte sul, onde se localizam a Mesquita de an-Nasr Mohammed (a única edificação mameluca que resta na Cidadela) e a Mesquita de Mohammed Ali do século XIX.   
Nisso eram 11 horas e Ahmed me disse para eu ao meio-dia estar pontualmente de volta no lugar onde me deixou pois ali ele não poderia estacionar. 
Citadela em Cairo
Posso dizer que uma hora é muito pouco tempo para se visitar esse lugar, sobretudo se você ainda quer fazer muitas fotos como é o meu caso.

Lá em cima encontrei um casal de São Paulo que disse que a sujeira do Cairo só não é pior do que a sujeira na Índia. Não sei avaliar, e acho que nos próximos anos tambén não terei condições de avaliar pois a Índia não faz parte de minhas prioridades turísticas.

A Mesquita de Mohammed Ali é de fato bastante imponente, apesar de muito suja por fora, mas isso penso que seja por causa do vento que faz acumular areia em todas as reentrâncias e salências, coisas que mesquitas têm em profusão. Não entrei nessa mesquita, mesmo porquê o relógio caminhava a passos largos para o meio-dia. Mas o sol estava mais do que inclemente e eu já estava pegando fogo de tanto calor.
Vista de Cairo do alto da Citadela
Larguei da Citadela e fui-me embora rumo à saída onde Ahmed já estava à minha espera: era meio-dia em ponto!

Ahmed disse então que iria me levar ao Museu Egípcio e que depois de duas horas iria me buscar para levar de volta ao hotel, ou então, se eu quisesse, poderia ir a pé, já que o hotel era logo ali virando a esquina. Depois da experiência da Citadela e do Bairro Copto, onde o tempo que Ahmed programou para as respectivas visitas foi muito curto, resolvi me despedir dele ali mesmo e disse que eu voltaria ao hotel a pé e que ele estava dispensado.

Quando ele me deixou em uma esquina, dizendo que o Museu ficava no meio da quadra eu quase que fiquei com raiva de mim mesma: ontem de manhã eu estava bem ali ao lado, ou seja, deveria ter aproveitado o horário da manhã para ir tirar fotos.
Entrada do Museu Egípcio
Aí aconteceu algo para mim inesperado: tive de entregar minhas câmeras, pois não se pode sequer entrar com uma câmera no Museu Egípcio. Com isso as duas horas previstas por Ahmed para ver tudo lá dentro foram suficientes.

Eu não sou muito amiga de visitar museus e assim sou péssima para dizer alguma coisa a respeito. O que ficou me martelando na cabeça o tempo inteiro foi que os antigos egípcios tinham um culto aos mortos tão exagerado que acabou por salvar essa civilização do esquecimento.

Por outro lado a crença na vida depois da morte não deixa de ter sido acertada: todos aqueles mortos ressuscitaram para a vida eterna dentro de um museu. 

Duas coisas me impressionaram por demais: a riqueza e os detalhes das jóias e o incomensurável número de sarcófagos. 

Aliás que vendo aquele monte de tumbas e sarcófagos veio-me à mente Napoleão e sua tumba no Invalides: clara e nitidamente copiado dos egípcios. E por falar em Napoleão, descobri ontem que esse hotel onde estou foi originariamente o quartel-general de Napoleão durante a Campanha do Egito.

Como os malvados egípcios não me deixaram fotografar no interior do museu, só de pirraça coloco aqui a tumba de Napoleão no Invalides:
Tumba de Napoleão em Paris: cópia dos egípcios?
Amanhã a viagem segue rumo a Luxor e o que eu posso dizer desses três dias em Cairo é que apesar de tudo valeu muito a pena, sobretudo pela experiência e como preparativo para uma próxima visita que com certeza há de vir em alguma hora.

sábado, 29 de setembro de 2012

Joe, o motorista ou A aventura - Parte II

Clique aqui para ler a Parte I

Depois de uma noite muito bem dormida no hotel quatro estrelas, acordei cedo e depois do chuveiro matinal fui ao café-da-manhã, que também foi excelente.

Como o motorista disse que viria às nove e nisso eram 7:45, resolvi me aventurar pelas margens do rio, o que de fato foi uma aventura, pois o trânsito é simplesmente absurdo. Não há um sinaleiro de pedestres, que diria uma zebra para atravessar a rua. O negócio é esperar que não venha carro algum, o que é raríssimo.

Ao chegar na ponte sobre o Nilo de onde tirei as fotos ontem à noite, olho para ambos os lados e fico pasma: não vem carro algum de lado algum. Uma lástima que demorei para perceber o que estava ali se passando: com certeza a gravação de algum comercial para os carros Mercedes-Benz. Com isso perdi pegar os carros de frente e só consegui pegá-los por detrás, mas dá para ver que dois deles estão na contra-mão.
A ponte fechada ao trânsito para os quatro Mercedes-Benz poderem passar.
Aproveitei para também atravessar e continuei meu passeio na intenção de mais adiante virar à direita. Acabou tal intento permanecendo apenas um desejo irrealizado pois não consegui criar coragem para atravessar aquela rua, já que o trânsito não deu trégua. Fiquei ali parada por alguns minutos observando a vida da cidade grande logo cedo e, sobretudo, os carros caindo aos pedaços. Dentro das normas alemãs pelo menos 2/3 daqueles carros teriam de sair imediatamente do trânsito por não oferecerem um mínimo de condições de segurança. Mas, estando eu em Cairo e não na Alemanha, resolvi deixar trânsito ser trânsito e voltar para o hotel e esperar pelo motorista.

Ao chegar de volta na ponte, quem disse que eu consegui atravessar! Na primeira pista deu uma trégua, e daí fiquei eu presa no meio da ponte com carros passando atrás de mim e na minha frente, uma buzinação sem fim e eu querendo apenas chegar do outro lado da malvada da ponte. Em alguma hora um motorista simplesmente parou e assim segurou todo o trânsito atrás de si, com o que o motorista a seu lado fez a mesma coisa e assim eu pude atravessar a ponte incólume. 
Nem os leões ajudam o pedestre a atravessar a rua na entrada da ponte sobre o rio Nilo
O motorista foi pontual e lá fomos nós rumo às pirâmides de Gizé. Pelo menos foi isso que eu pensei que havia contratado por 250 libras egípcias.

O simpático motorista disse chamar-se um nome qualquer em árabe que não consegui pronunciar, ao que ele me disse que em inglês ele se chamava Joe e que eu então deveria chamá-lo dessa forma, o que facilitou barbaridades o diálogo, tivesse havido algum diálogo. De fato foi mais ou menos um monólogo da parte dele, contando que iríamos visitar inicialmente uma fábrica de papiros, a única oficializada pelo governo, nas palavras de Joe.

Depois da papiresca experiência da noite anterior fiquei com mil-e-uma pulgas atrás da orelha e nada adiantou eu lhe dizer que não tinha interesse algum em ver a fabricação de papiros: lá fomos nós parar na fábrica de papiros. 

Agora eu nem vou contar o que tudo se vê e por quais vielas, ruelas, barracos e quebradas se tem de passar até chegar na tal única fábrica de papiros oficializada pelo governo. Aquilo é uma cena fantástica para um crime perfeito. Não sei se a periferia de Sampa tem uma cara tão tenebrosa.

De qualquer forma chegamos lá e um simpático rapaz já veio falando alemão comigo, o que me deixou muitíssimo bem impressionada, já que era um alemão excelente que o camarada falava. Perguntei-lhe depois se já havia morado na Alemanha, ao que ele responde que nunca saiu do Egito e que aprendeu alemão na Universidade do Cairo. Eu duvido que um alemão que nunca saiu da Alemanha seja capaz de falar árabe apenas com o que aprendeu na Universidade da forma como aquele rapaz falava alemão aprendido na Universidade do Cairo.

Para encurtar a conversa, sou agora feliz proprietária de cinco folhas A3 em branco de papiro legítimo, com direito a certificado e tudo o mais, e mais um mapa com a equivalência dos hieroglifos e uma chave da vida. Tudo isso por módicas 900 libras egípcias, o que acaba sendo um assalto à mão armada se comparado às 100 libras egípcias que acabei pagando ontem por uma árvore da vida. Pelo menos isso eu descobri hoje, como se chama aquela gravura cheia de passarinhos que recebi de presente e depois tive de pagar por ela.

Mas, deu-se aqui um problema de ordem técnico-financeira. Como desde que fui assaltada (veja em Uma nobre profissão), nas viagens eu saio do hotel com pouco dinheiro e nenhum cartão, eu não tinha dinheiro disponível para pagar os caríssimos papiros. Tudo sem problema, Joe adiantou o dinheiro que ficou faltando!
Joe, o motorista!
Entramos novamente no carro e finalmente fomos em direção às pirâmides de Gizé. Ao lá chegarmos, Joe didaticamente me explicou que ele mesmo não poderia me acompanhar, mas que trabalhava junto com pessoas especializadas em acompanhar turistas e que eu então poderia escolher ir no lombo de um cavalo ou de um camelo, já que são 12 km para se percorrer tudo e isso não dá para fazer a pé e sem guia pois muito longe. Pouco faltou para eu dizer a Joe 12 km eu tiro de letra e para mim isso não é distância. Não o fiz pois o sol estava já bem causticante e eu sem meu chapeuzinho de caminhar no sol, que eu bestamente esqueci de colocar na mala.


À espera do passageiro em para as pirâmides de Guizé
Continua Joe com seu monólogo me explicando que lá na área demarcada - que Joe só chamava de "area" - há muitos exploradores que querem te vender as coisas mais absurdas e que eu não deveria falar com ninguém além do guia que ele iria me arrumar.

Melhor não perguntar que cara que eu estava fazendo e que eu já estava com vontade de me esconder debaixo da saia de mamãe fosse mamãe ainda viva.

Assim apareceu mais um personagem pitoresco na história que nos convidou para entrar num quartinho e tomar assento. É incrível como esses egípcios gostam de te convidar para entrar em algum lugar e tomar assento.

Nisso essa nova personagem explica com base num quadrinho na parede que há não sei quantas pirâmidas e mais a esfinge e mais uns morros e mais diabo a quatro e que tudo isso se dividia em tour pequena, tour média e tour grande e que eu resolveria qual tour eu queria fazer e se eu queria ir a cavalo ou a camelo.

Respondi que não iria nem em um e menos ainda em outro e que se fosse esse o pressuposto básico para conhecer as pirâmides eu iria dispensar a visita e o faraó que se ralasse em sua tumba, pois nem *&%$§ eu iria subir em um cavalo e menos ainda em um camelo.

O simpático perguntou então se eu me disporia a ir de charrete - porque raios que os parta não falou de cara que existia essa possibilidade - ao que eu concordei e disse que iria de charrete, mesmo porque eu não poderia ir no sol causticante e que a charrete tinha a proteção do toldo. Escolhi a tour pequena e isso iria me custar a bagatela de 240 libras egípcias. Dos negócios papirescos ainda haviam me sobrado 200 libras egípcias, ao que Joe me emprestou os quarenta faltantes e me deu mais 100 para qualquer emergência. Em breve eu iria descobrir para qual emergência eu iria precisar dessa grana.

Fechado o negócio lá fomos para fora e fui apresentada a Alex, o charretista.


Joe o motorista e Alex, o charretista
Subi na charrete e lá fomos nós rumo às pirâmides. Antes de sairmos, Joe ainda me fez muitas e muitas recomendações, para não aceitar ajuda de ninguém, para ficar sempre nas proximidades de Alex e que se depois do passeio eu tivesse ficado satisfeita com o serviço de Alex eu deveria lhe dar uma gorgeta. Ali estava a emergência das 100 libras que Joe havia me emprestado. A minha sorte foi que eu peguei a nota de 100 que Joe havia me dado e a troquei por duas de 50 que eu ainda tinha e com as quais eu paguei a charrete. Pois senão estava na cara que a propina teria de ser de 100 libras egípcias, já que eu não tinha mais dinheiro!

A charrete andou por cada quebrada, novamente becos, vielas, favelas, ruas sem calçamento tudo extremamente folclórico. E o trânsito caótico. De repente chegamos a uma ampla avenida. Alex não pestanejou um segundo: subiu a avenida na contra-mão.

Finalmente chegamos na entrada das pirâmides, ao que Alex me diz que tenho de desapear e entrar a pé pelo controle de entrada e ele entraria então pela entrada das charretes e a gente se encontraria do outro lado.


Finalmente pirâmides
Faço curto o passeio: vi as pirâmides, não desci da charrete para ir vê-las de perto pois o sol estava realmente mais do que insalubre e o que mais estava me fascinando no passeio era justamente o clima surreal desse mundo de nativos e turistas. Vão aqui as fotos que eu acho que mais valem a pena:


Essa turista preferiu o camelo!
A esfinge e a pirâmide
Eu, a charrete e as pirâmides
Alex conseguiu um feito que muitos antes dele tentaram e não conseguiram: tirar uma foto minha. Por exemplo Joe, naquela foto lá em cima sobre o Nilo, havia dito que queria tirar uma foto minha naquele mesmo lugar e não teve sucesso em seu intento. Mas, eu penso que a situação nas pirâmides era tão irreal que mereceu uma foto. Alex para tanto até desceu o toldo da charrete o que mais uma vez me mostrou quão acertada foi a escolha do transporte, uma vez que o sol estava mais do que venenoso!

Misteriosamente a volta ao lugar de onde saímos deu-se em menos de dez passos, ou seja, toda aquela maratona na ida foi para enganar turista ou sei lá eu qual o objetivo. Para mim valeu muito a pena pois estou bem mais fascinada pelas pessoas nativas e sua ambientação do que necessariamente pelas pirâmides. Essas eu volto a visitar em alguma outra ocasião, mas dessa vez a pé e sem guia ou charrete.

De volta ao carro fomos ao sítio arqueológico de Sacara. Para quem se interessa pelos detalhes, clique no link que leva a um excelente artigo na Wikipédia. 


Pirâmide em Sacara
Na viagem de Gizé a Sacara Joe conseguiu me convencer que seria excelente um passeio noturno sobre o Nilo com direito a jantar.

Entre um e outro telefonema - não pensem que foram menos, não, continuaram tão numerosos como os de ontem - Joe me explicou que as buzinas são conversas entre os motorista e que todos sabem exatamente o que significa cada buzina.

Ainda bem que não moro aqui e nem preciso dirigir nesse trânsito. Assim também não preciso aprender a língua das buzinas.

Mas Joe também me ensinou como atravessar a rua: simplesmente sair andando e os carros param e deixam você passar! De forma alguma ficar com medo e parar no meio da rua. Penso que nesse caso a buzina serve para te alertar que você ainda não morreu atropelado!

Depois dessas explicações Joe me trouxe de volta para o hotel e, em vez de aproveitar o tempo para ir visitar mais Cairo eu resolvi ficar aqui escrevendo mais essa aventura pois confesso que não quero experimentar atravessar a rua esperando que os carros parem. Daqui a pouco vou no tal passeio noturno e amanhã eu conto como foi.

Clique aqui para ler a Parte III













sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A realização de um sonho

Há quem diga que sonhos devem ser sempre realizados, não importa quanto tempo leve para sua consecução.

Como acredito nesse dito e já consegui transformar vários sonhos em realidade no decorrer de meus muitos anos de vida muitíssimo bem vivida, havia um que insistia em ser sonhado mas sempre deparava-se com algum empecilho para sua realização: conhecer o Egito.

Desde os tempos do colégio, nas aulas de História sobre faraós, pirâmides e sobretudo as enchentes abençoadas do rio Nilo (acho que deve ser o único rio do mundo que tem enchentes abençoadas, já que todas as demais sempre são tremendamente amaldiçoadas) a vontade de conhecer esse país não me largou.

E, agora, finalmente, chegou a hora de conhecer o Egito, o que já promete muita aventura, uma vez que viajo sempre sozinha e por conta própria o que é muito melhor do que viajar em grupo - para o meu gosto pelo menos - mas também tem suas armadilhas, sobretudo em países culturalmente bem distantes de nossa cultura cristã-ocidental.

Apesar da uma hora de atraso, o vôo foi bom. O avião estava lotado, com o que eu inicialmente havia recebido um assento no meio, o que é tenebroso para um vôo de quatro horas. Mas, depois de choramingar um pouco a mocinha simpática do embarque me arrumou um assento bem melhor na porta de emergência, com o que havia espaço mais do que suficiente para minhas pernas, já que não havia o assento da frente.

Quando se chega no aeroporto de Cairo tem-se de comprar o selo do visto por 15 US$ e entrar na fila do controle de passaportes, quando então o tal selo vai ser colado e carimbado em teu passaporte.

Afora a fila, que é horrível em qualquer lugar do mundo, foi tudo muito descomplicado e a mala também já estava circulando na esteira de tanto tempo que se leva para passar pelo controle de passaportes.

O hotel que eu havia reservado oferecia transferência gratuita, o que eu aceitei mais do que correndo e, de fato, quando saí do saguão das bagagens, lá estava o sujeito com a placa do hotel com meu nome. Disse-lhe apenas para esperar um bocadinho pois eu tinha de passar pela Egtyptair para ver meu vôo para Luxor na segunda-feira, que ainda não havia sido confirmado.

Aí já começou a aventura, pois subindo a escada rolante, um egípcio me acompanha e me pergunta o que eu queria fazer e eu lhe disse que tinha de ir ver o vôo da segunda que ainda não havia sido confirmado, ao que ele gentilmente me acompanhou e no final acabou falando egípcio com o moço da reserva, que disse que estava tudo confirmado e só faltava eu pagar.

Fiquei sem saber o que dizer pois pelo que me disseram na Alemanha a passagem seria debitada em minha conta. O solícito egícpio, carregando - de fato puxando - minha mala, disse que teríamos de ir então ao escritório da Lufthansa mas que deveríamos ir depressa pois iria fechar logo.

De fato, ao lá chegarmos, já estava fechado, mas a mocinha abriu assim mesmo quando mostrei minha identidade. Enquanto isso o motorista do hotel esperando! Para encurtar a história, a simpática mocinha da Lufthansa acabou resolvendo o problema da melhor forma possível, com o que tenho o vôo da segunda garantido.

Nisso o solícito egípcio se despediu e eu agradeci um milhão de vezes. Confesso que sem a sua ajuda eu teria ficado vendida com a situação. Será que a ajuda a estranhos é algo intrínseco à cultura egípcia?

Saímos do aeroporto - o motorista e eu, sendo que o motorista passou então a tomar conta de minha mala. Chegamos a um carro meio velho, mas perto de outros carros naquele estacionamento era até novíssimo. O que tem de carro caindo aos pedaços circulando pelas avenidas de Cairo é brincadeira.

O motorista me pergunta se tenho alguma coisa contra ele fumar e eu lhe respondo que não. Ele acende um cigarro no outro e enquanto fuma e dirige com uma mão com a outra segura o celular e fica tecendo longas conversas para mim ininteligíveis com sabe-se lá quem. Foram por baixo uns dez telefonemas e uns três cigarros em cerca de 50 minutos.

O trânsito do Cairo deixa o trânsito de Sampa parecer comportadíssimo. Apesar de não haver tantas motos como em Sampa, as que existem quase entram dentro do carro de tão grudados que andam. Aliás que isso se vê também nos carros: nem carro novo é sem arranhão ou afundado.

Sobre a cidade paira uma neblina de poluição e entre prédios interessantes há prédios horrendos, demolições, favelas, enfim, tudo o que uma cidade de oito milhões de habitantes tem para oferecer. Cairo é a maior cidade do mundo árabe.

As avenidas são largas, mas o trânsito é igualmente carregado. De repente chega-se ao rio Nilo e assim ao hotel, que escolhi justamente por oferecer vista ao rio. Sou apaixonada por rios.

No email onde o hotel confirmou que iriam me buscar no aeroporto, à minha pergunta se eu poderia receber um apartamento bem no alto, com vista ao rio havia a afirmação de que iriam me dar o melhor apartamento do hotel.

A recepção do tal hotel fica  no segundo andar de um prédio qualquer que fica ao lado do Four Seasons, que vem a ser um dos melhores hotéis de Cairo.

Muito solícitos, já disseram para eu me sentar e lá me sentei, quando na verdade o que eu queria era ir correndo para o quarto e trocar de roupa, sobretudo trocar de sapato! 

Conversa para cá, conversa para lá e vem e vai e vai e vem o rapazinho da recepção me diz que infelizmente não há um quarto para mim no hotel. Aí ele me mostra a minha reserva, que já fiz lá em maio, e confirmou que eu havia reservado um quarto executivo no tal hotel, mas que ele não tinha quarto para mim pois lá havia uma família síria que deveria ter ido embora e não foi embora pois não há avião para a Síria.

Nisso eu já estava me vendo dormindo debaixo da ponte do rio Nilo quando ele me diz que  arrumou um outro hotel para mim: bem mais caro, mas que eu iria pagar o preço combinado. Só que teria de pagar em dinheiro vivo e na hora. 

Nisso ele já havia me vendido duas excursões: uma amanhã para ver as pirâmides e outra no domingo para visitar a cidade do Cairo. Tudo pago à vista e adiantado. Combinou que amanhã às nove da manhã alguém viria me apanhar para irmos então finalmente visitar pirâmides.

Depois de muita embromação, sendo que em alguma hora o rapazinho disse que de repente tinha um quarto para mim, o motorista apareceu e disse para irmos embora para o outro hotel pois aquela do quarto disponível era alarme falso.

Volta o filme do cigarro e conversa no celular. Eu me pergunto o que tanto existe para ser conversado no telefone. Acho um espanto, sobretudo com quanta gente se telefona em questão de minutos. Eu acho que em seis meses eu não conduzo tantas conversas telefônicas como esse motorista nessas duas viagens.

De repente ele pára e diz que chegamos. Já na porta do hotel há uma guarita e um controle pior do que no aeroporto. O camarada abriu minhas bolsas e ficou futrecando na mala, um horror!

Mas o hotel tinha mesmo cara de melhor do que o outro. Mais tarde eu descobri porque tem esse controle na porta: os fundos do hotel dão para a embaixada americana!

Para encurtar a história, estou agora hospedada em um hotel quatro estrelas, que faz jus às cujas ditas estrelas. 


Vista do rio Nilo do terraço do hotel - 10. andar
Depois de me despedir do motorista - que jurou de pés juntos que amanhã pontualmente às nove da manhã estará defronte ao hotel para me levar às pirâmides - o concierge levou-me a meu quarto onde finalmente pude então trocar de roupa e de sapatos.

Nisso já estava escuro e eu resolvi assim mesmo ir ver o rio. Atravessar a rua é uma aventura com risco de vida, pois não tem semáforo ou zebra e o trânsito é intenso. Corri para atravessar e nisso vem um jovenzinho me dizer que é problemático atravessar a rua assim e foi me envolvendo com aquela conversinha de quem quer alguma coisa de mim e eu nada quero com ele.

Consegui me livrar da criatura com a promessa de que na volta eu passaria no seu ateliê para ele me mostrar a arte dele e de sua irmã. Nisso fui até a ponte sobre o rio e fiquei fascinada com o movimento, com as pessoas totalmente estranhas e diferentes, algo que eu classificaria de folclórico, não fosse provavelmente eu mesma a folclórica na concepção deles.


Vista da fachada do hotel da ponte sobre o rio Nilo
Não me aventurando a ir mais adiante, mesmo porque sem mapa e sem conhecimento de causa, de noite, num lugar onde nem o espirro se entende, é melhor não facilitar as coisas. Essa é a parte ruim de se viajar sozinha: não me atrevo muito a sair de noite.

Nisso o rapazinho já está à minha espera. Havia me contado ser estudante de história e estar fazendo um curso para ser guia turístico no Museu do Cairo.

Quando ele me viu mais do que depressa arrastou-me para o tal ateliê que nada mais e nada menos era do que uma lojinha de vender bugingangas para turistas. Já foi me enfiando um papiro com uns passarinhos na mão dizendo que era um presente para mim, ao que eu lhe disse que não poderia aceitar um presente assim. Aí ele me disse que isso seria uma ofensa pessoal contra ele e sobretudo traria muito azar à irmã que iria se casar no dia seguinte, casamento para o qual eu estava convidada e deveria comparecer a todo e qualquer custo.

Nisso apareceu a irmã - claro que com um pano na cabeça - e mais um outro irmão, um personagem novo na história, pois até então o rapazinho nada havia falado de irmão. Havia dito de pai que vai muito a negócios para a Alemanha, mas nada havia dito de mais um irmão. Esse deve provavelmente ter sido oriundo de alguma geração espontânea.

Fiquei a me perguntar o que raio que os parta que a casadoira irmã estava fazendo na lojinha a essas alturas do campeonato se iria se casar no dia seguinte. Mas não ousei verbalizar esse questionamento pois iria encompridar muito a história.

Não tivesse eu ido há três anos a Jerusalém onde não encontrei nem Deus nem Jesus, mas a milagrosa multiplicação dos vendilhões do templo, sendo que um deles conseguiu me vender uma correntinha com um lapislazuli lindíssimo também à custa de uma história parecida com as histórias dos irmãos egípcios, eu provavelmente teria caído mais no conto do papiro. Mas como gosto de aprender de meus erros - e não considero a compra da correntinha com o lapislazuli um erro, pois ela é muito bonita e sempre muito elogiada - dei lá um dinheiro de presente para a casadoira mocinha, presente esse que o irmão queria multiplicar por infinito ao cubo - e tratei de sair de lá correndo, vindo me refugiar no meu hotel quatro estrelas.

Assim, quem chegou até aqui na leitura desse texto, deve agradecer ao rapazinho egípcio que me vendeu por cerca de 12 € um papiro de passarinhos com pontos prateados, kitsch a mais não poder. Pois não fosse ele, eu não teria voltado correndo para o hotel e resolvido contar essa aventura.

De qualquer forma eu fico feliz que os marqueteiros não tenham descoberto ainda as técnicas de venda desses orientais: são de uma eficácia altamente invejável.

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